Em 2012 parte da liderança mundial será reformulada. Estados Unidos, França e Rússia realizam eleições presidenciais e os líderes da China também vão mudar depois de um congresso do Partido Comunista que, provavelmente, ocorrerá em outubro.
Como resultado, na maior parte do ano, quatro dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU vão estar consumidos pela política interna. Isso, por sua vez, irá afetar profundamente as relações internacionais. Enquanto os líderes políticos estão internamente engajados, eles certamente assumirão posições mais nacionalistas sobre as grandes questões internacionais. Isso é preocupante, porque 2012 será um ano que demandará intensa cooperação internacional para lidar com uma deterioração econômica. O resultado pode ser danos graves para os fundamentos da globalização.
De todas as possíveis mudanças na liderança, a campanha presidencial americana terá maior visibilidade, uma vez que os EUA ainda são a grande superpotência do mundo, e porque a votação não ocorrerá até novembro. A imersão do presidente Barack Obama na campanha eleitoral impossibilitará os Estados Unidos de assinar novos acordos internacionais sobre o comércio ou o clima. Obama também poderá enfrentar um adversário republicano que vai desafiar o papel tradicional dos EUA como fiador do sistema de comércio mundial. Mitt Romney, um dos principais candidatos à nomeação republicana e um homem com uma sólida carreira no mundo dos negócios, disse que, como presidente, iria impor tarifas sobre produtos chineses se a China se recusar a deixar sua moeda flutuar (embora os candidatos à presidência tenham um histórico de serem mais duros com a China durante a campanha do que eles acabam por ser durante o mandato).
Uma posição mais dura dos Estados Unidos seria inevitavelmente seguida por um surto de nacionalismo da China, reflexo também da política interna do país. Para apaziguar todas as diferenças entre EUA e China, a Casa Branca de Obama passou a confiar nos dois homens que estão atualmente no topo da política chinesa: o presidente Hu Jintao e o primeiro-ministro Wen Jiabao. Entretanto, até o final de 2012, eles quase que certamente entregarão o poder ao provável próximo presidente Xi Jinping e ao primeiro-ministro Li Keqiang. Ambos apresentaram ao mundo uma face branda e inescrutável. Mas é provável que cerca de 70% da alta liderança da China mude em 2012, e as autoridades ocidentais estão receosas já que cada vez mais nacionalistas estão subindo na hierarquia. Bo Xilai, atualmente chefe do partido em Chongqing, tem um gosto por slogans maoístas (assim como ternos de grife). Ele está cotado para um alto cargo, e é conhecido por defender uma linha dura com criminosos e estrangeiros.
Com o futuro do Euro no centro das discussões econômicas internacionais, o impacto da política europeia e da eleição presidencial francesa será muito relevante para o resto do mundo. De todos os líderes que estão concorrendo à reeleição, Nicolas Sarkozy, o presidente da França, é provavelmente aquele que está mais ameaçado de perder o emprego. Muito antes da eleição (segundo turno acontecerá em 06 de maio), Sarkozy estava atrás de todos os adversários plausíveis do Partido Socialista nas pesquisas de opinião. A crise econômica europeia poderia dar a Sarkozy uma grande oportunidade de bancar o estadista internacional durante a campanha presidencial. Mas também pode tentá-lo a saciar seu lado populista. No passado, ele tomou posições que exploram o alerta francês sobre o comércio internacional e a imigração, falando da necessidade de maiores barreiras tarifárias para proteger os bens da União Europeia, para o controle mais rigoroso nas fronteiras e a deportação de imigrantes ilegais.
Os oponentes de Sarkozy vão contribuir para o teor nacionalista do debate. Marine Le Pen, da Frente Nacional de extrema-direita, pode ser cotada para abrir fogo contra a imigração e o livre comércio. E muitos socialistas são bastante conservadores quando o assunto é globalização. Tudo somado, é pouco provável que a eleição presidencial francesa torne mais fácil a tomada de decisão sobre o futuro da Europa.
Apesar das denúncias de irregularidade, Vladimir Putin foi novamente eleito presidente da Rússia depois que o país foi às urnas em 04 de março, dando à política internacional um outro líder nacionalista. Dmitri Medvedev, o atual presidente, é o protegido de Putin, mas a sua política externa tem sido menos agressiva para os Estados Unidos e a União Europeia do que a política de Putin, tanto em estilo como em substância. Por exemplo, Medvedev assumiu uma postura neutra em relação à intervenção ocidental na Líbia, enquanto Putin, como primeiro-ministro, se opôs. Medvedev deixou claro que acredita na cooperação internacional e trabalhou bem em conjunto com os EUA no esforço para restabelecer as relações russo-americanas. Em contrapartida, Putin tende a considerar a política internacional como uma competição de soma zero entre as nações.
Parece que agora, em 2012, é o estilo Putin de ver as relações internacionais que vai ganhar terreno em todo o mundo. Assim, essa tendência nacionalista e protecionista pode tornar as relações e o comércio entre países ainda mais complicado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário